A Boneca Despida
Paulo M. MoraisDo seu nascimento na ilha do Faial à pequena infância passada em Macau; dos tempos num colégio interno em Hong Kong ao regresso definitivo a Lisboa; da obediência à avó à sujeição ao papel de esposa e mãe; a história fascinante de Julieta (e a da sua boneca de bisque) é também a da mulher portuguesa ao longo dos anos cinzentos da ditadura, sempre contando os centavos, abdicando dos sonhos em favor da família, calando dúvidas e frustrações e passando por cima de sucessivos desgostos.
A Boneca Despida, finalista do Prémio LeYa 2022, é também o registo absolutamente notável da história da vida privada de um país que, no lapso de um século, participou em guerras e conflitos, viu partir a sua gente, instalou-se nos subúrbios, virou do avesso regimes políticos, fez-se europeu, esqueceu os seus velhos, conheceu momentos de luz e sombra. E Julieta, claro, assistiu a tudo.